A colecistectomia é a remoção cirúrgica da vesícula biliar, indicada em casos como obstrução biliar, colelitíase, ruptura vesicular, neoplasias e colangio-hepatites refratárias ao tratamento clínico. Em felinos, esse procedimento é recomendado em obstruções parciais, embora com cautela, devido à sua elevada taxa de morbidade e mortalidade. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo relatar o caso de um paciente felino submetido à colecistectomia em decorrência de colangite neutrofílica associada à tríade felina. Foi atendido em uma clínica veterinária de Fortaleza-CE um gato, macho, castrado, sem raça definida, com 8 anos e 3,8 kg, apresentando sinais de êmese persistente, adipsia, apatia, icterícia leve, emagrecimento progressivo e constipação, após mudança recente de ambiente. No exame físico, destacavam-se desidratação moderada, mucosas hipocoradas, leve icterícia e ausência de linfonodomegalia. Os exames laboratoriais revelaram anemia discreta, leucocitose por neutrofilia e aumento significativo de enzimas hepáticas. A ultrassonografia abdominal evidenciou hepatomegalia, vesícula biliar distendida com paredes espessadas, conteúdo ecodenso (lama biliar e cálculo), dilatação das vias biliares extra-hepáticas e alterações compatíveis com pancreatopatia e esteatite perivesicular. Diante dos achados, concluiu-se tratar-se de colangite neutrofílica associada à obstrução biliar. A partir do diagnóstico de tríade felina com obstrução total, optou-se pela estabilização clínica e posterior abordagem cirúrgica. Para a colecistectomia, realizou-se acesso à cavidade abdominal, exposição do fígado e da vesícula biliar, e dissecção cuidadosa do tecido hepático adjacente. Após liberação da vesícula e visualização do ducto biliar comum (DBC), realizou-se enterotomía duodenal para localização da papila duodenal e tentativa de sondagem com cateter, sem sucesso. Pela compressão manual da vesícula, observou-se extravasamento de bile pela papila, descartando obstrução ativa no DBC. Contudo, a colecistectomia foi realizada por meio de ligaduras duplas no ducto cístico, utilizando fio de nylon 2-0, seguidas da ressecção do segmento compreendido entre as ligaduras. Foram coletadas amostras da vesícula, pâncreas e linfonodo mesentérico para análise histopatológica. O laudo concluiu pancreatite linfocítica com hiperplasia exócrina, linfadenite reativa e adenoma de vesícula biliar, confirmando a tríade felina com componente obstrutivo. Ainda que haja riscos envolvidos na cirurgia hepatobiliar em felinos, a indicação cirúrgica mostrou-se imprescindível, diante da gravidade do quadro e da falha terapêutica prévia. O desfecho favorável do caso reforça a importância da avaliação individualizada e da intervenção no momento apropriado. Assim, conclui-se que, embora a colecistectomia represente um procedimento de risco em felinos, mostra-se uma alternativa viável e eficaz em quadros avançados de colangite neutrofílica com obstrução biliar completa, especialmente quando associada à tríade felina, desde que precedida por adequada estabilização clínica e realizada com técnica cirúrgica apropriada.